
A saúde bucal de cães e gatos vai muito além do mau hálito. Estima-se que 80% dos pets desenvolvam doenças periodontais após os três anos de idade, segundo a Mars Petcare . O acúmulo de placa bacteriana e tártaro pode causar inflamações, perda dentária e até afetar órgãos vitais, como coração, rins e fígado, devido à disseminação de bactérias pela corrente sanguínea.
Apesar dos riscos, muitos tutores hesitam em realizar procedimentos como a remoção de tártaro sob anestesia , seja pelo custo ou pelos riscos associados à sedação. Quando, então, a intervenção é realmente indispensável?
Placa, tártaro e anestesia: quando é realmente necessário fazer a remoção?
A presença de tártaro visível costuma deixar muitos tutores em dúvida: é hora de marcar a limpeza? O procedimento, conhecido como tartarectomia, deve ser recomendado com critério. Isso porque a remoção do tártaro verdadeiro — ou seja, aquele que se acumula também abaixo da gengiva — só pode ser feita com anestesia geral e equipamentos específicos, como sondas periodontais e radiografias intraorais.
“A anestesia é indispensável para um tratamento eficaz e seguro. Procedimentos sem anestesia são apenas cosméticos, não resolvem inflamações profundas e ainda podem causar dor ao animal”, explica Vanessa Carvalho , doutora pela USP e fundadora da clínica especializada Smile4Pets.
Apesar dos avanços nos protocolos anestésicos e da segurança atual, o custo e os riscos envolvidos ainda exigem avaliação individualizada. A recomendação dos especialistas é clara: nem todo pet com tártaro visível precisa de intervenção imediata. Um bom acompanhamento odontológico e exames clínicos detalhados podem indicar o melhor momento para agir — ou adiar.
Em gatos, a situação exige atenção redobrada. Muitas vezes, quadros de gengivoestomatite crônica provocam tanta dor que o animal perde peso por não conseguir se alimentar. Já em cães, fraturas dentárias causadas por objetos rígidos são outro alerta: dentes quebrados com exposição da polpa devem ser tratados o quanto antes para evitar infecções sérias e risco de disseminação bacteriana para o organismo.
Saúde bucal afeta coração, rins e até o comportamento do pet
A boca dos pets é um ponto-chave da saúde sistêmica. Bactérias presentes nas placas dentárias podem migrar para a corrente sanguínea e atingir órgãos como fígado, rins e coração — o que já foi comprovado por estudos tanto em animais quanto em humanos. Por isso, sintomas como halitose intensa , salivação fora do normal , sangramentos gengivais ou recusa em mastigar devem ser levados a sério .
“O pet muitas vezes sente dor, mas não demonstra de forma evidente. Ele pode apenas mudar o comportamento, evitar o alimento seco ou mastigar de um lado só. Esses sinais sutis podem esconder inflamações severas” , alerta a odontologista veterinária Fernanda Muller , da rede Pet Support.
Escovação diária, dieta e brinquedos certos: o trio da prevenção
Para evitar o acúmulo de tártaro e outras complicações, a principal medida continua sendo a escovação diária com pasta específica para pets. Escovas infantis com cerdas macias também podem ser utilizadas, desde que não haja machucados visíveis na gengiva.
A alimentação é outro fator importante . Rações secas premium, com grãos maiores, estimulam a mastigação e ajudam na limpeza mecânica dos dentes. Já alimentos muito moles ou pastosos tendem a aderir com mais facilidade à superfície dentária — mas não precisam ser descartados, desde que a higiene seja feita com rigor.
Brinquedos dentários adequados, como mordedores específicos, também ajudam na prevenção. Mas atenção: objetos duros demais, como ossos cozidos, nylon ou cascos, podem causar fraturas e devem ser evitados.