
Diversos animais no Brasil estão sendo acompanhados de perto pelo Governo Federal para que não sejam extintos, com cartilhas próprias para a perservação dessas espécies. Uma delas são os muriquis.
Os muriquis são considerados os maiores primatas das Américas. Eles enfrentam sérias ameaças de extinção, principalmente pela destruição de florestas. Pertencentes ao gênero Brachyteles, essas espécies vivem nas regiões de Mata Atlântica do Brasil e são reconhecidas pela pelagem lanosa e comportamento pacífico. Restam menos de mil indivíduos do muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) e cerca de dois mil do muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides).
A doutora em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre Vanessa Guimarães explicou em conversa ao Canal do Pet que a degradação do habitat natural dos muriquis acaba fazendo com que as fêmeas sejam isoladas em pequenas áreas florestais.

"Quando as fêmeas se dispersam de seus grupos natais em busca de novas populações, o seu isolamento pode levar à diminuição do tamanho das populações de muriquis. Além disso, a fragmentação do habitat compromete não apenas a conectividade entre diferentes grupos, mas também a diversidade genética, tornando essas populações ainda mais vulneráveis à extinção."
As mudanças climáticas também é um fator levantado pela bióloga devido à alteração e diminuição da oferta de alimentos para essas espécies. O contato com humanos e animais domésticos também representa um perigo, expondo os muriquis a doenças. “A destruição do habitat e a fragmentação aumentam os riscos para a sobrevivência das espécies”, apontam especialistas do ICMBio.
Preservação dos muriquis

As informações sobre o risco enfrentado pelas espécies estão detalhadas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Muriquis (PAN Muriquis), aprovado pelo Instituto Chico Mendes (ICMBio). O plano tem como objetivo reduzir o risco de extinção por meio de ações, como monitoramento populacional, educação ambiental e fiscalização contra desmatamento.
Vanessa explica as pesquisas entorno dos muriquis tem crescido nos últimos anos, o que tem gerado um maior engajamento para a preservação desses animais. "Graças a esses esforços coletivos, conseguimos, pelo menos por enquanto, remover o muriqui-do-norte da lista dos 25 primatas mais ameaçados de extinção do mundo. No entanto, ainda enfrentamos numerosos desafios para reduzir seu nível de ameaça e garantir sua sobrevivência a longo prazo".
Ela continua: "É fundamental manter o investimento em pesquisas, alocar recursos financeiros adequados, preservar habitats e promover a sensibilização da população sobre a importância da conservação dessa espécie única. Somente através de ações integradas e sustentáveis poderemos assegurar um futuro promissor para os muriquis."

Sobre a preservação, ela explica que os pesquisadores intensificaram estudos sobre os muriquis por meio de levantamentos e monitoramentos populacionais. Técnicas avançadas, como drones equipados com câmeras térmicas, estão sendo utilizadas para mapear habitats e estimar populações de forma mais precisa. "Essa tecnologia permite a detecção do calor emitido pelos corpos dos animais, possibilitando a identificação e a localização dos muriquis em ambientes densos e de difícil acesso", afirma Vanessa.
O uso de drones térmicos não apenas facilita a localização dos primatas, mas também reduz a interferência humana no habitat natural, minimizando assim o estresse dos animais e garantindo dados mais precisos. Com essas informações, estratégias de conservação mais eficazes podem ser desenvolvidas para proteger tanto os muriquis quanto os ecossistemas em que vivem.
Além das inovações tecnológicas, programas de educação ambiental têm sido fundamentais na preservação da espécie. "Tais iniciativas não apenas promovem o conhecimento sobre o primata, que ainda é desconhecido em algumas regiões, mas também o elevam à condição de símbolo da conservação local", explica a bióloga.

A ciência cidadã, com o envolvimento da população na coleta de dados, também tem desempenhado um papel essencial na identificação de indivíduos isolados e ameaças à espécie. "A participação da comunidade na coleta e compartilhamento de dados sobre a espécie é essencial, pois pode revelar a presença de indivíduos isolados e identificar outras ameaças que eles possam enfrentar".
Um exemplo dessas ações é o projeto "Primatas PERDidos", do Muriqui Instituto de Biodiversidade, que atua no Parque Estadual do Rio Doce, em Minas Gerais. A iniciativa realiza atividades educativas voltadas para turistas e comunidades locais, incluindo palestras, brincadeiras e oficinas de confecção de réplicas do muriqui com materiais recicláveis. "Recentemente, foi realizada uma capacitação para os condutores ambientais do parque, com o objetivo de iniciar práticas de observação do muriqui no local", relata a especialista.
Impacto do desaparecimento dos muriquis

Os muriquis possuem características únicas. Os machos podem chegar a 150 cm e pesar até 15 kg, enquanto as fêmeas alcançam 120 cm e 12 kg. A cauda longa e preênsil auxilia na locomoção entre árvores, enquanto a dieta inclui folhas, frutos, flores e sementes. Essas características tornam os muriquis peças fundamentais no equilíbrio dos ecossistemas da Mata Atlântica.
"Como excelentes dispersores de sementes, sua extinção poderia resultar em uma diminuição na regeneração de diversas espécies de plantas, alterando a composição da vegetação e afetando toda a estrutura do ecossistema. Consequentemente, teria um impacto negativo em outras espécies da fauna que dependem das mesmas fontes alimentares ou habitats", explica Vanessa.
Segundo ela, a extinção dos muriquis também teria implicações significativas para o ecoturismo e as comunidades locais que dependem da biodiversidade para sua cultura e sustento. "A eliminação de uma espécie que contribui para a reciclagem de nutrientes e a manutenção do solo pode afetar a fertilidade da terra e a saúde geral da floresta. A extinção dos muriquis não afetaria apenas esses primatas, mas teria repercussões profundas em toda a estrutura e funcionamento do ecossistema da região onde habitam."
PAN Muriquis

O PAN Muriquis, aprovado em 2010, incluiu metas como a ampliação de Unidades de Conservação, conectividade entre populações e criação de programas de monitoramento. Outra medida foi a previsão de um fundo financeiro para atividades de pesquisa e conservação.
Até 2020, o objetivo era reclassificar o muriqui-do-norte de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo” e o muriqui-do-sul de “Em Perigo” para “Vulnerável”. Apesar do avanço em algumas áreas, especialistas alertam que os desafios para preservar essas espécies continuam, exigindo ações constantes.
O desmatamento da Mata Atlântica é uma das maiores barreiras à sobrevivência dos muriquis, tornando essencial o fortalecimento de políticas públicas e o engajamento da sociedade. “Proteger essas espécies é também preservar o bioma que abriga uma biodiversidade única”, reforça o PAN.